quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Sexo Surdo

"O sexo que fazemos é profissional
Planejado, programado
Para um grande final."

Kid Abelha - Um Segundo A Mais



Dias cada vez mais ávidos pelo próximo dia. Assim vejo o homem se apressar mais e mais ao correr do tempo. Tenho pensado muito nisso ultimamente, com ajuda de embasamento de muito do que venho estudando em algumas aulas, vou interligando todos os aspectos que demonstram a dita fragmentação do sujeito, a aceleração dos resultados, a busca frenética por relações sobrepostas, descartáveis, virtuais ou presenciais. Através de uma conversa com uma amiga acabei relacionando com sexo de hoje em dia. Já vi âmbitos onde, principalmente, a relação sexual é coisificada, tomada como uma pílula para alívio de tensão ou auto-afirmação. Algumas pessoas tomam uma atrás da outra. Talvez eu já tenha visto e rodado um pouco para me permitir outro olhar sobre isso: Não gosto de situações forçadas onde se tenta fazer alguém agir de determinada maneira ou onde se força a si mesmo. Outra coisa, tenho problema com gente que fica com nojo. Nunca entendi com é que pode fazer uma coisa, se tem nojo daquilo ou de alguma prática que faz parte, melhor não fazer ou explicar antes. Sim, diga logo antes. Esta semana uma amiga me perguntou se acho que ela deveria dizer antes ao parceiro como ela gosta que seja feito, na hora suspirei porque isso me parece muito óbvio, o cara não tem que ficar adivinhando. Embora alguns homens ajam como quem já sabe de tudo. Defino com segurança que a relação começa antes do ato em si. Antes de um corpo conhecer o outro, começa na boca com a troca de beijos e de palavras (nessa hora estar fazendo psicologia me ajuda a aguçar a escuta), e acho importante ter atenção nas preferências. Começa na dança entre os olhares, numa atmosfera que precede o ato como uma umidade que avisa que vai chover. Tal como o vento que traz o cheiro molhado de longe, esse clima prévio traz um cheiro de sexo. Adoro esse momento que gera certa tensão, deixa as têmporas latejando, liberta a imaginação, esquenta o sangue, e aí quando o ato em si acontece, é só prazer, é como libertar todo este calor que foi represado. Um sexo intenso, como uma tempestade de verão que explode todo o mormaço que parava o ar. Acho que às vezes este momento não é bem compreendido, nem todo mundo gosta de falar das suas preferências antes de fazer algo, aí fica um pouco mais difícil adivinhar na hora. Muitas vezes o que se quer é apenas chegar lá, mas sem se abrir, sem se permitir trocar alguma coisa verdadeira com o outro, sem nem mesmo se preocupar com o outro. Acho mesmo um grande desperdício ter a companhia de alguém e continuar fechado na meta de um prazer tão solitário.


4 comentários:

  1. Acho que isso tem ligação com o fato de dissociarmos o sexo de qualquer outra forma de sentimento, como se o ato sexual existisse independente do sentir. junta isso com a necessidade de se auto afirmar, porque pra ser bom é preciso fazer um sexo surreal cheio de firulas como os dos filmes pornos cheio dos gemidos e das alucinações. Da telinha da tv para a cama mais uma cena teatral. Mulheres que fingem e acham normal, homens que supervalorizam a performace. A vida é mesmo um teatro, pena que não é mágico. Se fosse teria mais poesia...

    PS: continue sem desenterrar, gosto mais só porque te vejo; kkkk

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  2. Nanda,
    Concordo com você, para mim é exatamente isso, o resultando no âmbito sexual de uma fragmentação das identidades do sujeito. Fragmentação na estrutura da família, no trabalho onde ele perde o contexto daquilo que faz em relação ao todo da empresa, dos círculos sociais (e virtuais) e fica assim, caquinhos, no sexo também. Costumamos acreditar que o fingir, o iludir é a argamassa para reintegrar estes pedaços. E fica como dica o filme Atrás da Porta Verde, considerado um dos primeiros do gênero que você mencionou, vale a pena.
    Obrigado pela visita e pelo carinho ^^

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  3. isto me fez lembrar uma pessoa que conheci em tempos. ela (dizia-me) ficava chocada que elas só a quisessem para sexo, mas a pessoa só procurava para sexo. elas metiam-lhe medo, mas não deixava de procurar diariamente. tinha namorada assumida, claro, perante os/as amigos/as, como eu... mas na realidade, era dependente afectivo-sexual de qualquer mulher que visse. existia uma vontade tremenda em possuir o corpo e por vezes a própria psique. cheguei a ver a pessoa seduzir, e depois de conseguir virar um bloco de gelo para a menina.

    já se passaram uns anos, continua a mesma fome. a pessoa não tem graça física - não é que seja importante - mas é um facto que via sempre com várias...

    a pessoa faz um jogo de mãos, enquanto fala tem vicio de mexer com quem está falando e se encosta fortemente...

    uma vez me confessou que a próxima é sempre melhor que a anterior!!



    abrç

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  4. Obrigado pelo comentário, e você pareceu falar de alguém que eu também conheço. Talvez todo mundo conheça alguém assim por aí. Um ser em jejum, com um desejo sem fundo, andando em círculos.

    Abraços!

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