segunda-feira, 28 de junho de 2010

Surgimento


"É necessário ter o caos aqui dentro para gerar uma estrela."
Friedrich Nietzsche

domingo, 27 de junho de 2010

Toque Mudo



" - Só existem dois tipos de gente no mundo: Você e os outros. E eles nunca se cruzam."



sábado, 26 de junho de 2010

PAI



Vontade de gritar. Não um grito animalesco, indecifrável. Vontade de gritar o que me calam. Trazer do silêncio para a fala. Às vezes o esforço para não enlouquecer tem de ser tanto que é quase enlouquecedor, E querem que eu seja educado, que eu sabia me expressar. Querem que eu tenha opinião, que eu me coloque ativamente na vida. Tudo o que fizeram em todos estes anos foi me calarem, não me explicaram nada, mas me mandaram calar. Um louco, e à volta dele o silêncio impera. A causa de todo o silêncio que me foi imposto por todos os anos da minha vida. Até hoje tenho pesadelos. Até hoje me lembro de tudo o que aconteceu. Eu sempre lembro, todo dia. Eu me lembro das pancadas, das surras. Não me lembro da dor delas, mas eu me lembro do terror que causavam. Eu me lembro das broncas, das discussões, das vezes que expulsaram daqui vizinhos da minha idade que deveriam ser meus colegas, eu me lembro da coação que tudo isso causava. Eu lembro de uma vez em que brigou feio comigo por umas bananas. Eu e uns colegas que brincavam no quintal tínhamos comido as bananas, ele chegou da rua em seguida e reclamou que assim não tinha banana para as pessoas da casa comerem depois, nem pra fazer vitamina. Me deu um grande esporro e xingando muito, mandou todos embora, já nesta época, aquele era um dos poucos momentos em que eu interagia com os meninos aqui da rua, mas, como dessa vez, nunca dava certo. Eu também não podia sair e ficar na rua, era coisa de criança mal educada, de pais que não tinham cuidado com seus filhos. Era sempre mau, então eu não podia sair quase nunca. Durante um tempo, o portão ficou trancado. Um portãozinho... Como ele dormia à tarde, uma vez eu pulei e fui até a rua de cima. Fiquei eufórico e feliz, fui falar com um garoto que eu nem sabia o nome, só conhecia de vista que morava ali, não era nada com ele, era para poder sair e falar com alguém, depois voltei rapidamente. Numa segunda vez, ele acordou e foi na rua me buscar. Eu estava na metade do caminho quando olhei para trás, ele na esquina me chamando, eu já sabia de tudo... Tive de voltar, entrei debaixo de muitos xingamentos e insultos gritados. Apanhei de novo. Eu não lembro só disso, eu me lembro mesmo é da vergonha, eu me lembro do medo nisso tudo. Eu sempre lembro...

"Nos deram espelhos e vimos um mundo doente."