quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Outra vez

Outra vez,

Eu fui me esconder

Para não ver o sol nascer,

Preferi ficar entre

As nuvens castanhas.


E você a me dizer

Que é inútil

Tentar não ver.

Tentar não se ver.


Peço pra você relevar

O meu all-star,

Sujo sempre está.

Meu jeito em cima da hora

E um segredo no canto do olhar.


Peço para não ligar

Se eu faço tudo errado

Se te confundo e me afasto,

Simplesmente eu não sei

Revelar o segredo no canto do olhar.


Talvez você não entenda

Que tantos enganos e erros

São por não acreditarmos

O que não sabemos da vida.


Outra vez,

Mais uma vez,

Porque só

O erro tem vez.


Outra vez,

Vem trazer

Em sua boca a palavra

Que eu quero dizer.

domingo, 19 de setembro de 2010

A FONTE DO ESPÍRITO

"Dai-me de beber, que tenho uma sede sem fim
Olhe nos meus olhos, sou o homem-tocha
Me tira essa vergonha, me liberta dessa culpa
Me arranca esse ódio, me livra desse medo."
Legião Urbana - A Fonte

Estes dias, lembrei de um tempo atrás em que eu e um grande amigo, Guilherme, costumávamos eleger, cada um, uma música da legião urbana que era a música do ano. Ela resumia de certa forma, a cara que cada ano tivera. (Saudades do ano “Giz”). Atualmente até isto se fragmentou, em vez de uma música agora são trechos para cada época do ano, já que meus últimos anos foram muito mais vividos e mais intensos. No momento o que define é que quero uma limpeza. Não de pele, mas de alma. Ergo meus olhos e digo com a firmeza de uma prece: - Tira essa vergonha, liberta dessa culpa, arranca este ódio, me livra do medo. Olhos na direção do espelho ao dizer isso. E consigo dizer isso para mim mesmo na medida em que trabalho quem sou por dentro e encontro caminhos para o mundo exterior. Há uma fonte de um pulsar que tem como alvo minha realização, meus desejos. A fonte é uma ferida, de asfixia, é a dor. A dor real. A dor daquilo que eu não esqueci, mas não só dor; é também aquilo que eu nem quero esquecer – Quem eu sou. Assim, quanto mais consigo trabalhar o EU, melhor fica a via pela qual este mesmo EU interage com o mundo e com o que ele demanda. A partir deste contato maior comigo mesmo surgem muitas mudanças, mas o melhor que consigo fazer é estar no caminho. Afinal, não se controla o caminho debaixo de seus pés, quem sabe das tuas pegadas é ele.


sábado, 28 de agosto de 2010

Do Arrebol.

Era tarde. Não era escuro, posto que não se fizera noite, nem era tardio como já tivesse se passado algo a que ele refletia. Era claro e era in-tardecer. A claridade verde amarelada iluminava suas idéias sem razão. E naquele momento não queria ter com o racional. Introduzia-se na tarde por ser naquele momento um ser em acontecimento – transmutando-se com a atmosfera casual e vertendo-se nela, já fundido com a mesma. Sentia o tempo passar nas árvores que o vento jogava fragmentos ao chão. Pensou nos fragmentos de si mesmo. Em quantas vezes fora arremessado e tornou-se um objeto caleidoscópico pois, a vida não lhe tratava com igual suavidade. Embora não fosse isso o que refletia antes; pensava no que era o passar. No passar de si, gotejou um brilho. Já vira muitos antes mas este era novo – é sempre novo. Empalideceu maravilhado e assim desbotou os limiares do escarlate. Este pingado que já se fazia gritante e breve na linha tangente do quadril do mundo. E assim era o seu ser. Assim era o passar. Lá se foi, um por-do-sol.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Das coisas que eu não sei

Sei que o amor é perto

É feio, forte

Quando dura um tempo.

Enquanto queima a lágrima

É que se pode sentir


Sei que o amor é prego

É um inferno amarelo

Dá carinho e maltrata

Pra viciar e deprimir


Que esmaga com martelo

Os pés de quem ama

Para nunca mais fugir.

Que cega ambos os fantoches

Para que não vejam logo ali.


Sei que o amor eterno

É quase terno

Se não fosse pelo vício

De não querer se dissolver.

É terno e gravata atirados

Cuidadosamente sobre a paixão

Numa cama de verão.


Sei que o amor canalha

É feito corte de navalha

Que não livra a ninguém

Mas é gostoso e lhe cai bem


segunda-feira, 28 de junho de 2010

Surgimento


"É necessário ter o caos aqui dentro para gerar uma estrela."
Friedrich Nietzsche

domingo, 27 de junho de 2010

Toque Mudo



" - Só existem dois tipos de gente no mundo: Você e os outros. E eles nunca se cruzam."



sábado, 26 de junho de 2010

PAI



Vontade de gritar. Não um grito animalesco, indecifrável. Vontade de gritar o que me calam. Trazer do silêncio para a fala. Às vezes o esforço para não enlouquecer tem de ser tanto que é quase enlouquecedor, E querem que eu seja educado, que eu sabia me expressar. Querem que eu tenha opinião, que eu me coloque ativamente na vida. Tudo o que fizeram em todos estes anos foi me calarem, não me explicaram nada, mas me mandaram calar. Um louco, e à volta dele o silêncio impera. A causa de todo o silêncio que me foi imposto por todos os anos da minha vida. Até hoje tenho pesadelos. Até hoje me lembro de tudo o que aconteceu. Eu sempre lembro, todo dia. Eu me lembro das pancadas, das surras. Não me lembro da dor delas, mas eu me lembro do terror que causavam. Eu me lembro das broncas, das discussões, das vezes que expulsaram daqui vizinhos da minha idade que deveriam ser meus colegas, eu me lembro da coação que tudo isso causava. Eu lembro de uma vez em que brigou feio comigo por umas bananas. Eu e uns colegas que brincavam no quintal tínhamos comido as bananas, ele chegou da rua em seguida e reclamou que assim não tinha banana para as pessoas da casa comerem depois, nem pra fazer vitamina. Me deu um grande esporro e xingando muito, mandou todos embora, já nesta época, aquele era um dos poucos momentos em que eu interagia com os meninos aqui da rua, mas, como dessa vez, nunca dava certo. Eu também não podia sair e ficar na rua, era coisa de criança mal educada, de pais que não tinham cuidado com seus filhos. Era sempre mau, então eu não podia sair quase nunca. Durante um tempo, o portão ficou trancado. Um portãozinho... Como ele dormia à tarde, uma vez eu pulei e fui até a rua de cima. Fiquei eufórico e feliz, fui falar com um garoto que eu nem sabia o nome, só conhecia de vista que morava ali, não era nada com ele, era para poder sair e falar com alguém, depois voltei rapidamente. Numa segunda vez, ele acordou e foi na rua me buscar. Eu estava na metade do caminho quando olhei para trás, ele na esquina me chamando, eu já sabia de tudo... Tive de voltar, entrei debaixo de muitos xingamentos e insultos gritados. Apanhei de novo. Eu não lembro só disso, eu me lembro mesmo é da vergonha, eu me lembro do medo nisso tudo. Eu sempre lembro...

"Nos deram espelhos e vimos um mundo doente."

segunda-feira, 1 de março de 2010

Hoje Sim


Hoje eu quero ficar em casa, hoje eu quero ficar na Minha casa. Na casa em mim. Eu quero poder sentir um momento de calmaria aqui dentro, em meio a tudo, e depois de tantas transformações que já se passaram e vendo as que virão, existe o eu. Hoje eu quero deixar todas as partículas se assentarem em mim, e que elas façam seu trabalho. Hoje eu não vou me mover bruscamente. Hoje eu quero ver lentamente algum brilho até na passividade, no deixar acontecer. Hoje eu quero aprender a deixar acontecer. Hoje eu quero observar o último azul do fim da tarde e lembrar de tempos onde eu ainda não sabia que era feliz. Não que isto seja um tributo ao meu passado, uma recordação melancólica, mas por ser uma coisa boa e simples. Eu olho lá para fora pela janela e vejo a chuva fina e sem trégua de uma tarde cinzenta, e me pergunto se junto com ela mais coisas caem. O que trazem estas gotas? O que elas lavam? O que elas deixam em mim? Hoje eu quero estar só em mim.


sábado, 27 de fevereiro de 2010

Hoje Não


Ando inconformado com minha improdutividade: Ainda que eu queira, ainda que eu procure um uma situação, uma possibilidade, um clima (se é que é possível mesmo procurar o clima de uma criação; talvez ele simplesmente se faça e surja), a sensação é muitas vezes de insuficiência. Não basta o silêncio, não bastam as músicas, não bastam as leituras, nem as imagens, não basta o escuro. Nada basta. Tudo mudo. Há vezes em que só consigo topar com boas frases ou fragmentos de textos quando converso despreparadamente. Ainda não sei por que diabos eles me somem quando os planejo. Basta direcionar minha atenção, abrir o documento de textos e eles fogem deixando meus dedos gelados. Não desisto fácil. Fico de tocaia. Espreito-os sorrateiramente e tento me fundir na penumbra, respiro devagar, fico imóvel. Mas eles não vêm. Então finjo descaso, faço que vou embora e dou as costas cuidando que não percebam meu olhar de soslaio. Dou alguns passos e os rondo novamente. Ao que reaparecem e se aglomeram os pequenos fragmentos, lá os vejo à minha frente formando uma pequena pilha cinza e multicolorida de pétalas e plumas. Continuo sob um filete de despreocupação e rastejo para o lado, calculo a distância e de repente avanço impulsivamente sobre eles, mas eis que novamente todos me escapam esvoaçando na brisa de leveza. Só me resta esperar. É estranho e poético ficar à mercê do que vou criar. Mas quem disse que a poesia também não causa estranhamento? Se assim vem, sem dar tempo de descobrir, vem de repente fazendo só sentir, sentir, sentir... E repetir o que se sente até ficar dormente.