sábado, 27 de fevereiro de 2010

Hoje Não


Ando inconformado com minha improdutividade: Ainda que eu queira, ainda que eu procure um uma situação, uma possibilidade, um clima (se é que é possível mesmo procurar o clima de uma criação; talvez ele simplesmente se faça e surja), a sensação é muitas vezes de insuficiência. Não basta o silêncio, não bastam as músicas, não bastam as leituras, nem as imagens, não basta o escuro. Nada basta. Tudo mudo. Há vezes em que só consigo topar com boas frases ou fragmentos de textos quando converso despreparadamente. Ainda não sei por que diabos eles me somem quando os planejo. Basta direcionar minha atenção, abrir o documento de textos e eles fogem deixando meus dedos gelados. Não desisto fácil. Fico de tocaia. Espreito-os sorrateiramente e tento me fundir na penumbra, respiro devagar, fico imóvel. Mas eles não vêm. Então finjo descaso, faço que vou embora e dou as costas cuidando que não percebam meu olhar de soslaio. Dou alguns passos e os rondo novamente. Ao que reaparecem e se aglomeram os pequenos fragmentos, lá os vejo à minha frente formando uma pequena pilha cinza e multicolorida de pétalas e plumas. Continuo sob um filete de despreocupação e rastejo para o lado, calculo a distância e de repente avanço impulsivamente sobre eles, mas eis que novamente todos me escapam esvoaçando na brisa de leveza. Só me resta esperar. É estranho e poético ficar à mercê do que vou criar. Mas quem disse que a poesia também não causa estranhamento? Se assim vem, sem dar tempo de descobrir, vem de repente fazendo só sentir, sentir, sentir... E repetir o que se sente até ficar dormente.



domingo, 7 de fevereiro de 2010

Derreter e Precisar.


É um gosto esquisito. Fica na boca como depois de uma febre; depois de dias febris. Assisto a um filme no computador e entre as cabeças que se beijam nervosamente vejo o reflexo do meu rosto: um vulto amassado, barba por fazer, as tranças se desfazendo, as olheiras derretendo. Eu quero um café bem forte. Penso tanto que não sei por onde começar, mas é uma confusão generalizada. Hoje minha bagunça mental parece ainda maior, num tamanho que poderia envolver toda a cidade e fazer os carros flutuarem. Mas o que flutua é o meu senso de... Sei lá, senso de qualquer coisa, nem eu sei. Meu chão, cadê você? Volta logo que eu estou (des) esperando. Esta foi uma semana atribulada onde faltaram coisas necessárias, sobraram algumas indesejadas. Acho que consegui a medida satisfatória de mim em certas situações, mas faltei totalmente em outras. Faltaram ouvidos quando eu quis fazer confissões. Sobrou espaço para eu deslizar sozinho. Este texto parece destoar do que costumo postar aqui por ser tão confessional (e será que outros já não foram mais?) mas acho ótimo que ele pareça assim, para ajudar a traduzir (é este mesmo o propósito?) o presente: Uma confissão, um destoar, um exagero. Este texto é, sim, para ser diferente do costume. É para que eu possa transbordar aqui o que não me cabe na cabeça, no corpo. Então que este espaço seja usado para suprir minha falta de espaços. Esta semana as pessoas me pediram muito; pediram atenção, pediram carinho, pediram decisões, pediram resultados. E eu também pedi afeto, paciência, compreensão, etc. Muitas vezes o que pedimos é exatamente o que não conseguimos oferecer, outras vezes pedimos o tempo inteiro e nada oferecemos daquilo que poderíamos. Mas independente disso, sempre precisamos de alguém a quem pedir algo e alguém que nos pessa também, que necessite de algo que somos.