sábado, 27 de fevereiro de 2010

Hoje Não


Ando inconformado com minha improdutividade: Ainda que eu queira, ainda que eu procure um uma situação, uma possibilidade, um clima (se é que é possível mesmo procurar o clima de uma criação; talvez ele simplesmente se faça e surja), a sensação é muitas vezes de insuficiência. Não basta o silêncio, não bastam as músicas, não bastam as leituras, nem as imagens, não basta o escuro. Nada basta. Tudo mudo. Há vezes em que só consigo topar com boas frases ou fragmentos de textos quando converso despreparadamente. Ainda não sei por que diabos eles me somem quando os planejo. Basta direcionar minha atenção, abrir o documento de textos e eles fogem deixando meus dedos gelados. Não desisto fácil. Fico de tocaia. Espreito-os sorrateiramente e tento me fundir na penumbra, respiro devagar, fico imóvel. Mas eles não vêm. Então finjo descaso, faço que vou embora e dou as costas cuidando que não percebam meu olhar de soslaio. Dou alguns passos e os rondo novamente. Ao que reaparecem e se aglomeram os pequenos fragmentos, lá os vejo à minha frente formando uma pequena pilha cinza e multicolorida de pétalas e plumas. Continuo sob um filete de despreocupação e rastejo para o lado, calculo a distância e de repente avanço impulsivamente sobre eles, mas eis que novamente todos me escapam esvoaçando na brisa de leveza. Só me resta esperar. É estranho e poético ficar à mercê do que vou criar. Mas quem disse que a poesia também não causa estranhamento? Se assim vem, sem dar tempo de descobrir, vem de repente fazendo só sentir, sentir, sentir... E repetir o que se sente até ficar dormente.



2 comentários:

  1. Tá pensando que soltar as amarras todos os dias é fácil? Tem dia que é nó cruzado de marinheiro. Pare de pensar e sinta mais, deixe que as palavras se aproximem de vc e não o contrário.È um besta!!!

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