quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Cenas casuais... Sentimentando.


Ana Clara encostada na janela se vira num repente e fita Nado sentado do outro lado, olhar espremido. Música rolando no ambiente, passeando entre os espaços da mobília moderna e o vazio entre dois quereres.

- Mas você também nunca tentou nada demais, nunca quis me defender, me levar. Se não dá mais, é por causa de você Nado.

- E tentar para quê? Para ver você matar minhas tentativas?

- Eu não fiz nada! Não vire o jogo e me acuse como você sempre faz!

- Clarinha, eu tentei demonstrar que estava ali. Eu tentei ser protetor, mas você revelou se irritar quando tentam te apanhar no colo. Que posso fazer? Que mais pude tentar?Eu te falei muitas vezes, e você sem tempo exigiu sua independência, seu lugar, sua força, pois então estamos assim. Acho que não dá mesmo e é porque cada um não sabe mais querer o outro e a si ao mesmo tempo, fique consigo.

No apartamento todo em branco a porta se fecha.

“De tanto eu te falar
Voc
ê subverteu o que era um sentimento e assim
Fez dele raz
ão pra se perder
No abismo que
é pensar e sentir”

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Outra vez

Outra vez,

Eu fui me esconder

Para não ver o sol nascer,

Preferi ficar entre

As nuvens castanhas.


E você a me dizer

Que é inútil

Tentar não ver.

Tentar não se ver.


Peço pra você relevar

O meu all-star,

Sujo sempre está.

Meu jeito em cima da hora

E um segredo no canto do olhar.


Peço para não ligar

Se eu faço tudo errado

Se te confundo e me afasto,

Simplesmente eu não sei

Revelar o segredo no canto do olhar.


Talvez você não entenda

Que tantos enganos e erros

São por não acreditarmos

O que não sabemos da vida.


Outra vez,

Mais uma vez,

Porque só

O erro tem vez.


Outra vez,

Vem trazer

Em sua boca a palavra

Que eu quero dizer.

domingo, 19 de setembro de 2010

A FONTE DO ESPÍRITO

"Dai-me de beber, que tenho uma sede sem fim
Olhe nos meus olhos, sou o homem-tocha
Me tira essa vergonha, me liberta dessa culpa
Me arranca esse ódio, me livra desse medo."
Legião Urbana - A Fonte

Estes dias, lembrei de um tempo atrás em que eu e um grande amigo, Guilherme, costumávamos eleger, cada um, uma música da legião urbana que era a música do ano. Ela resumia de certa forma, a cara que cada ano tivera. (Saudades do ano “Giz”). Atualmente até isto se fragmentou, em vez de uma música agora são trechos para cada época do ano, já que meus últimos anos foram muito mais vividos e mais intensos. No momento o que define é que quero uma limpeza. Não de pele, mas de alma. Ergo meus olhos e digo com a firmeza de uma prece: - Tira essa vergonha, liberta dessa culpa, arranca este ódio, me livra do medo. Olhos na direção do espelho ao dizer isso. E consigo dizer isso para mim mesmo na medida em que trabalho quem sou por dentro e encontro caminhos para o mundo exterior. Há uma fonte de um pulsar que tem como alvo minha realização, meus desejos. A fonte é uma ferida, de asfixia, é a dor. A dor real. A dor daquilo que eu não esqueci, mas não só dor; é também aquilo que eu nem quero esquecer – Quem eu sou. Assim, quanto mais consigo trabalhar o EU, melhor fica a via pela qual este mesmo EU interage com o mundo e com o que ele demanda. A partir deste contato maior comigo mesmo surgem muitas mudanças, mas o melhor que consigo fazer é estar no caminho. Afinal, não se controla o caminho debaixo de seus pés, quem sabe das tuas pegadas é ele.


sábado, 28 de agosto de 2010

Do Arrebol.

Era tarde. Não era escuro, posto que não se fizera noite, nem era tardio como já tivesse se passado algo a que ele refletia. Era claro e era in-tardecer. A claridade verde amarelada iluminava suas idéias sem razão. E naquele momento não queria ter com o racional. Introduzia-se na tarde por ser naquele momento um ser em acontecimento – transmutando-se com a atmosfera casual e vertendo-se nela, já fundido com a mesma. Sentia o tempo passar nas árvores que o vento jogava fragmentos ao chão. Pensou nos fragmentos de si mesmo. Em quantas vezes fora arremessado e tornou-se um objeto caleidoscópico pois, a vida não lhe tratava com igual suavidade. Embora não fosse isso o que refletia antes; pensava no que era o passar. No passar de si, gotejou um brilho. Já vira muitos antes mas este era novo – é sempre novo. Empalideceu maravilhado e assim desbotou os limiares do escarlate. Este pingado que já se fazia gritante e breve na linha tangente do quadril do mundo. E assim era o seu ser. Assim era o passar. Lá se foi, um por-do-sol.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Das coisas que eu não sei

Sei que o amor é perto

É feio, forte

Quando dura um tempo.

Enquanto queima a lágrima

É que se pode sentir


Sei que o amor é prego

É um inferno amarelo

Dá carinho e maltrata

Pra viciar e deprimir


Que esmaga com martelo

Os pés de quem ama

Para nunca mais fugir.

Que cega ambos os fantoches

Para que não vejam logo ali.


Sei que o amor eterno

É quase terno

Se não fosse pelo vício

De não querer se dissolver.

É terno e gravata atirados

Cuidadosamente sobre a paixão

Numa cama de verão.


Sei que o amor canalha

É feito corte de navalha

Que não livra a ninguém

Mas é gostoso e lhe cai bem